Vai ser cada vez mais difícil encontrar um SEAT nas estradas: isto devido ao sucesso do Cupra. Em 2018, a marca automóvel sediada em Martorell, em Espanha, tomou a decisão de lançar a nova marca independente, sendo que Cupra (acrónimo de Cup Racing) era até então a designação da versão mais desportiva dos modelos SEAT. A decisão foi uma surpresa o sucesso tem dado razão à marca espanhola e há outros grandes fabricantes europeus a seguir os passos. Os novos modelos chegaram ao mercado em 2020 e os resultados foram muito positivos: a empresa voltou a dar lucro, fabrica menos carros e ganha muito mais dinheiro.
Vejamos os resultados: em janeiro, a imprensa especializado alertou para uma queda preocupante nas vendas de carros SEAT – dos 651.998 automóveis vendidos em 2019, passaram para os 455.297 que colocou no mercado no ano passado. Em qualquer outro momento dos seus 73 anos de história, ver as vendas caírem 30% seria catastrófico: no entanto, as receitas de vendas da SEAT cresceram em 2022 para 10.500 milhões de euros. 2019 foi mesmo o melhor ano de vendas da sua história e o ano passado o segundo… tendo vendido quase 200 mil carros a menos.
O segredo do sucesso: em cinco anos, o valor médio das viaturas vendidas pela SEAT passou de 17 para mais de 23 mil euros – para vender um veículo 38% mais caro em apenas cinco anos, os executivos da SEAT decidiram sacrificar a marca histórica.
O exemplo está a ser replicado na Europa automobilística: a tradição já não é só prestígio, basta ver os exemplos da Citroën, que lançou a DS com o mesmo espírito, a Fiat com a Abarth e a Renault com a Alpine. Todos são fabricantes europeus de prestígio que optaram por se camuflar sob outro nome.
García Alfonsín, que trabalhou na Abarth, avançou esta explicação ao jornal espanhol ‘El Confidencial’. “A ideia concetual surgiu na altura em que Luca de Meo trabalhava na Fiat. O então diretor-geral chegou a pensar que, mudando o logotipo e mais quatro coisas para um Fiat 500, podia vendê-lo mais caro e obter uma margem de 2 mil euros.” O conselho de administração da Fiat deu luz verde a esta ideia. No entanto, De Meo deixaria a empresa antes de a ver concretizada. A sua paragem seguinte foi o grupo Volkswagen, dono da SEAT desde 1986, e em 2015 tornou-se presidente da marca espanhola. “Assim que chega à SEAT, copia exatamente a mesma estratégia que experimentou na Fiat”, explicou, salientando que “é a mesma visão: hoje é praticamente impossível fazer volume e ir fabricar a baixo custo na Europa continental. Se não se pode fechar fábricas ou mexer nos trabalhadores, a única opção é colocar essa força de trabalho a fazer coisas mais caras.” Atualmente, um Fiat 500 é vendido por cerca de 18 mil euros ao passo que um Abarth 500 — com mais recursos — é vendido entre 26 e 38 mil euros.
O Cupra foi tão bem-sucedido que, em apenas três anos, já representa 24% dos carros vendidos pela SEAT e quase 40% do seu volume de negócios. A previsão é que neste mesmo ano aconteça a surpresa e a SEAT SA ganhe mais com a Cupra do que com a SEAT.
O que pode então acontecer ao SEAT? A este ritmo, antes do final da década, pode estar reduzida a uma secção marginal nas contas anuais da empresa espanhola e mais centrada no fabrico de trotinetes do que em automóveis. O peso histórico da marca é inquestionável, o problema é que só tem valor para o mercado espanhol.