O mundo arrisca uma falta de diesel conforme as refinarias de petróleo revelam-se impotentes para produzir combustível suficiente: as consequências, de acordo com a revista ‘Time’, são uma nova frente inflacionária à medida que as economias a nível mundial ficam privadas de um combustível que alimenta não só a indústria mas também os transportes.
Os futuros do petróleo entraram numa escalada crescente – na passada sexta-feira estavam um pouco abaixo dos 95 dólares por barril em Londres – mas ainda assim insignificante face ao aumento do diesel: os preços nos Estados Unidos superaram os 140 dólares, atingindo o nível mais alto de todos os tempos para esta época do ano. Na Europa, o equivalente disparou 60% desde o verão.
A situação pode piorar: a Arábia Saudita e a Rússia fecharam as torneiras da produção do petróleo bruto mais rico em diesel. Os dois países, a 5 de setembro último, anunciaram que iriam prolongar as restrições até ao final do ano, período que tradicionalmente regista um aumento da procura. “Corremos o risco de ver um aperto contínuo no mercado, especialmente para destilados, nos meses de inverno”, frisou Toril Bosoni, chefe da divisão de mercado de petróleo da Agência Internacional de Energia, referindo-se à categoria de combustível que inclui o diesel. “As refinarias estão a lutar para acompanhar.”
A situação é desafiadora para uma frota global de refinação que há meses é acossada por uma produção fraca – o forte calor do hemisfério norte neste verão forçou muitas centrais a funcionarem a um ritmo mais lento do que o normal, o que teve reflexos nos stocks. Houve também pressão para se fabricarem outros produtos, como combustível de aviação e gasolina, que registou um crescimento forte da procura.
Estes fatores somam-se a uma sistema de refinação global que fechou fábricas durante a pandemia da Covid-19: num momento em que o consumo está a recuperar, muitas refinarias desapareceram, o que faz crescer as preocupações sobre o fornecimento de alguns dos principais países exportadores de diesel.
A Rússia – que ainda é um importante fornecedor para o mundo, apesar das sanções ocidentais – indicou que pretende limitar o volume de combustível que envia para os mercados globais. A China emitiu recentemente uma nova quota de exportação de combustível mas, de acordo com diversos analistas, o volume atualmente planeado não será suficiente para evitar um mercado apertado até ao final do ano.
Os níveis de stock mundiais estão em baixo: o armazenamento nos Estados Unidos e em Singapura estão atualmente abaixo dos níveis sazonais normais. Nos países da OCDE, são inferiores aos registados há meia década.
A oferta restrita tem consequências económicas: o aumento dos futuros nos Estados Unidos foi impulsionado em parte pelos camionistas, que ‘açambarcaram’ o combustível. “O diesel é o combustível do camião de 18 rodas que transporta os produtos da fábrica ao mercado, portanto, quando os preços disparam, esses custos mais elevados de transporte são repassados às empresas e aos consumidores”, referiu Clay Seigle, diretor de serviços globais de petróleo do Rapidan Energy Group.
A situação do gasóleo poderia ter sido pior, uma vez que o crescimento do consumo não foi tão marcado como em outros derivados. O relatório mensal da AIE previu um aumento do consumo de cerca de 100 mil barris por dia este ano, menos do que o previsto para a gasolina (500 mil barris) e combustível de aviação e querosene (mais de 1 milhão de barris por dia). “No fundo, é uma questão de abastecimento”, garantiu Eugene Lindell, chefe de produtos refinados da consultoria FGE. “As refinarias europeias também não conseguiram aumentar o abastecimento durante o verão devido a interrupções generalizadas e não planeadas que deixaram os stocks apertados antes do inverno.”