UE prepara-se para atenuar as novas regras sobre poluição após lobby da indústria automóvel

Proposta apresentada pela Comissão em novembro de 2022 adotou em grande parte os limites de emissões recomendados pela indústria

UE prepara-se para atenuar as novas regras sobre poluição após lobby da indústria automóvel

A União Europeia prepara-se para diluir a a legislação sobre poluição rodoviária, após um extenso lobby da indústria automóvel, que os especialistas garantem que podem causar cerca de 100 mil milhões de euros em custos de saúde e ambientais. A análise da ‘Clove’ – Consórcio para Emissões Ultrabaixas de Veículos -, avançada pelo jornal britânico ‘The Guardian’, apontou que metade das poupanças financeiras projetadas pelas novas normas Euro 7 sobre emissões de automóveis serão perdidas devido aos danos causados pelo excesso de dióxido de azoto – este gás tóxico foi o principal contaminante libertado pelos motores de combustão, especialmente os diesel.

Assim, os especialistas da ‘Clove’ recomendaram de forma significativa a quantidade de dióxido de nitrogénio autorizado nos veículos e restringir as condições reais de condução nos testes de aprovação de novos modelos.

No entanto, ao abrigo de um acordo celebrado pelos 27 Estados-membros da UE em setembro último, os limites para o dióxido de azoto (e outros poluentes nocivos, como as partículas ultrafinas), bem como os testes de aprovação, permaneceriam praticamente inalterados em relação aos da legislação anterior, a Euro 6. A única reforma significativa é que os limites à emissão de partículas provenientes de pneus e travões seriam regulamentados pela primeira vez.

As marcas automóveis disseram que a proposta da comissão era “totalmente desproporcional, gerando altos custos para a indústria e os clientes com benefícios ambientais limitados”. No entanto, o estudo da ‘Clove’ afirmou que o custo para a indústria produzir veículos mais limpos – estimados em cerca de 30 mil milhões de euros – seria muito inferior ao benefício esperado de 182 mil milhões de euros para a UE.

No entanto, o lobby extenso dos fabricantes automóveis surtiu efeito: de acordo com o jornal britânico, a Comissão Europeia foi fortemente pressionada pela Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) – uma reunião secreta, a 1 de junho de 2022, entre um representante do comissário europeu Thierry Breton, e o presidente da ACEA, Oliver Zipse (também CEO da BMW), permitiu aos fabricantes alertar contra os limites estritos de emissões de dióxido de azoto e a favor da manutenção de testes de aprovação fracos.

A proposta apresentada pela Comissão em novembro de 2022 adotou em grande parte os limites de emissões recomendados pela indústria. Várias fontes indicaram que limites mais baixos de emissões de escape foram negociados pela Comissão como parte de um acordo tácito para garantir o apoio da indústria à eliminação progressiva dos motores de combustão em toda a UE em 2035.