Por Carlos Cardoso, Chairman da GSTEP
Será possível às lideranças de topo realizarem o imperativo da transformação digital sem integrarem no seu colectivo sabedoria digital?
O título é claramente decalcado da famosa fórmula de Einstein: E = M * C2 – energia é igual à massa vezes o quadrado da velocidade da luz. A ideia faz equivaler energia a valor, massa à escolha – fazer o quê, para quem, com quem, como; a tradicional cadeia de valor de Michael Porter – e a luz à computação. Nos dias de hoje, e do futuro, podemos apenas discutir o grau de certeza desta proposição, mas nunca negá-la. Vamos então tentar entrar um pouco na lógica e nas implicações da mesma.
Sabemos que o computador é, na sua essência, um emulador de realidade. Simula uma operação real – seja um cálculo, uma pesquisa, uma análise e, agora, a própria inteligência – e realiza-a mais rápido. Mas mais. Realiza operações que o nosso cérebro e as nossa ferramentas convencionais não conseguem fazer, mas que têm tradução real. É, portanto, um formidável acelerador de valor, como a luz é um “quase” incomensurável acelerador de energia. Daí, ter-me recordado da celebre fórmula desse grande génio, para afirmar, sem querer ser absolutista, que sem computação não há negócio ou, no mínimo, há um negócio pior.
A computação não é, portanto, apenas mais um novo gene no ADN da cadeia de valor, antes acelera cada um dos seus elementos, bem com o seu resultado combinado. Mas mais, e não menos importante: altera o próprio processo de decisão e liderança; em certo sentido, muda a natureza do próprio líder ou decisor, na medida em que altera, expande e acelera o conjunto de possibilidades de criação de valor.
Por tudo isto, causa-me enorme perplexidade, mesmo incompreensão, o facto de uma grande maioria das lideranças executivas das organizações não terem no seu seio a competência de entender e usar este multiplicador preponderante. É como se houvesse conselhos de administração que não integrassem pessoas com competências de gestão, economia, finanças, vendas e marketing, produção ou liderança. É não perceber que a transformação digital é equivalente, em alcance e disrupção, à revolução industrial e que, tal como esta, implica o emprego e a fusão de um novo capital, e que esta responsabilidade, diria até obrigação, lhes cabe inteiramente.
Nesta altura a pergunta do subtítulo responde-se a si própria: não, não é possível! Não é possível porque o digital não é apenas uma comodidade, como a electricidade ou o combustível, é o outro lado do binómio que faz girar qualquer negócio actual. Já não é possível comandar uma empresa sem ter a mão nesta alavanca.
Não basta, por isso, ter um director ou uma equipa de informática, ou até mesmo uma excelente consultora, é imperativo incorporar na raiz da decisão, da avaliação, da inovação este saber digital. O CIO – chief information officer – não é um informático, é, antes de mais, uma mulher ou homem que comunga o mesmo saber profundo do negócio dos demais membros do conselho de administração. Como todos os outros, domina a receita geral, e em profundidade um ingrediente indispensável – o digital, que, bem combinado com os restantes, gera valor competitivo, gera sucesso.