Após a recolha de dados de centenas de milhares de veículos, a Comissão Europeia estabeleceu as diferenças de consumo entre os valores WLTP anunciados pelas marcas automóveis e a realidade: de acordo com a publicação ‘L’Automobile Magazine’, é nos plug-in híbridos que se quebram todos os recordes, com diferenças que podem ultrapassar os 300%.
Tem sido um dos debates mais acesos na indústria automóvel: os valores de consumo de combustível anunciados pelos fabricantes de automóveis e os que vemos na realidade: até porque os ciclos de testes (WLTP) não refletem necessariamente da melhor forma a realidade, ainda que se tentem aproximar dela.
Para impedir novo ‘Dieselgate’, a Comissão Europeia impôs a partir de 2021 que cada carro novo seja equipado com OBFCM (‘On Board Fuel Consumption Monitoring’), um dispositivo que recolhe dados de consumo e emissões do carro, para que possam ser analisados e eventualmente detetar fraudes.
No seu primeiro relatório, a Comissão Europeia destacou não outra fraude, mas uma grande lacuna entre os dados anunciados pelos fabricantes e os produzidos pelos condutores ao volante dos seus automóveis: sobretudo nos veículos híbridos plug-in.
A 18 de março, o organismo europeu tornou público o seu relatório sobre os dados recolhidos ao longo de 2021 – dizem respeito a 600 mil veículos, a grande maioria dos quais são automóveis a gasolina e diesel. Aqui foi detetado um consumo médio registado muito superior ao que consta nas fichas técnicas dos automóveis.
No caso da gasolina 95, dos 274.451 veículos analisados, o consumo médio deveria ter sido de 6,38 litros aos 100 km. Na verdade, eram cerca de 7,38 l/100 km, uma diferença de 23,73%.
Os resultados são um pouco melhores para o gasóleo com diferenças observadas nos 219.003 automóveis analisados de 18,14%, ou seja, uma média WLTP de 5,82 l/100 km, e uma realidade que se situa nos 6,88 l/100 km.
Se tomarmos a média de todos estes carros com motores térmicos, não eletrificados, a diferença entre os valores WLTP anunciados pelos fabricantes e a realidade no terreno é de 21,37%, ou 7,44 l/100 km reais, em comparação com os 6,13 l/100 km anunciados.
As diferenças surpreendentes nos híbridos plug-in
O relatório da Comissão Europeia destaca outra realidade nos híbrido plug-in. Não foi uma surpresa, uma vez que a tecnologia é nova e muitos condutores não estão preparados para a infraestrutura de carregamento: e como muitos PHEV são mais pesados devido à bateria que lhes permite, pelo menos em teoria, conduzir totalmente elétricos durante algumas dezenas de quilómetros, o consumo explode. A isto há que somar um ciclo WLTP que está sem dúvida longe da realidade.
Os dados recolhidos permitem-nos compreender a extensão das diferenças entre os números teóricos e a realidade: nos 123.740 veículos analisados, passamos de um consumo teórico de 1,69 l/100 km, para 5,94 l /100 km na realidade. Isso é uma diferença de 250,53%!
Nos números detalhados dos PHEs, aqueles que combinam eletricidade e diesel são de longe os piores. Ainda que o consumo seja inferior ao de um motor a gasolina, dos 24.893 automóveis analisados, a média registada foi de 5,83 l/100 km, contra 1,41 k/100 km no WLTP. Uma diferença de 312,12%! Para os híbridos plug-in a gasolina, é de 238,10% (98.847 carros analisados), ou 5,97 l/100 km registados, ante 1,76 l/100 km anunciados.
Os dados publicados pela Comissão Europeia permitiram também ver as diferenças entre os números anunciados e a realidade por fabricante.
Assim, no que diz respeito às emissões de CO2, nos veículos a gasolina por exemplo, podemos notar uma diferença de 30,74% entre os valores WLTP e a realidade (respetivamente 170,4 e 130,3 g/CO2/km). Para efeito de comparação, é o dobro de um Volkswagen, com uma diferença de 15,92% (170,7 na vida real, 147,4 no WLTP).
As marcas mais desportivas, como Mercedes-AMG e Ferrari, apresentam as maiores diferenças: 45,48% para a alemã (290,1 WLTP contra 422,1 reais) e 45,35% para a italiana (255,2 WLTP contra 370,9 reais).
Olhando para os fabricantes que vendem híbridos plug-in, o melhor aluno é a Kia com uma diferença de “apenas” 161,4% entre as emissões WLTP, 33,7 g/km de CO2, e as emissões reais, 88,1 g/km de CO2.
O prémio para a maior diferença vai para a Suzuki que, ao anunciar emissões médias de 22 g/km de CO2, e que na verdade emite em média 116,2, apresenta uma diferença de 428,3%. Entre os fabricantes franceses, a diferença na Renault é de 190,8% e de 301% na Peugeot.