A mudança para os carros elétricos está a perder energia?

As vendas de carros elétricos são um elemento essencial para se atingirem as metas climáticas. No entanto, os números são claros: as vendas de EV no Ocidente diminuíram e, se os Governo quiserem que recuperem, poderá ter de ser à custa das suas próprias economias

A mudança para os carros elétricos está a perder energia?

As vendas de carros elétricos são um elemento essencial para se atingirem as metas climáticas. No entanto, os números são claros: as vendas de EV no Ocidente diminuíram e, se os Governo quiserem que recuperem, poderá ter de ser à custa das suas próprias economias.

O mercado de EV em 2024 está a sofrer uma desaceleração, após anos de vendas crescentes. De acordo com a ‘BBC’, a substituição dos automóveis movidos a combustíveis fósseis por EV é fundamental para o plano do Governo britânico para cumprir os seus objetivos climáticos – recorde-se que o transporte rodoviário é responsável por 12% das emissões planetárias.

A questão que se coloca é: esta desaceleração é só um ponto que vai desaparecer no espelho retrovisor ou será mais duradouro? E se durar, será que os Governos terão estômago (e vontade política…) para fazer o que for necessário para manter o crescimento das emissões líquidas zero nas estradas?

O crescimento nas vendas de EV foi notável. Em 2020, havia 10 milhões de EV na estrada, em 2023 eram 45 milhões. Mas as vendas precisam de permanecer notáveis para cumprir os objetivos: até 2035, a Agência Internacional de Energia (AIE) afirma que serão necessários 790 milhões de EV se quisermos atingir o zero líquido até meados do século, o que implica um crescimento nas vendas de 27% a cada ano.

Nesse sentido, o facto de as vendas globais do maior fabricante de veículos elétricos do mundo, a Tesla, terem sido na verdade mais baixas no primeiro trimestre de 2024 do que no mesmo período de 2023 suscitou espanto. Também a BYD – o maior fabricante de EV da China – sofreu uma desaceleração entre janeiro e março.

Na Europa, as vendas de EV caíram mais de 10% em termos anuais no último trimestre do ano passado, com exceção do Reino Unido, cujas vendas totais aumentaram.

Nas ilhas britânicas, os analistas afirmam que as fortes vendas de EV nos últimos anos foram impulsionados pela compra de automóveis da empresa, graças a generosos incentivos fiscais. No entanto, o mercado britânico está a revelar-se um ‘osso duro de roer’, com as pessoas a dizerem que se sentem principalmente desanimadas pelo elevado custo.

A China está a produzir muito mais EV do que as necessidades do seu mercado interno – poderia facilmente inundar os mercados dos EUA e da Europa com carros baratos se estes não fossem restringidos pelas tarifas.

Aqui está o dilema para os políticos europeus e americanos. Querem veículos elétricos mais baratos para facilitar a transição climática, mas não à custa de minar os seus próprios fabricantes de automóveis e os empregos locais. São por isso já frequentes as conversas sobre aumentar as tarifas e outras barreiras comerciais às importações para impedir a entrada de EV chineses ultra-competitivos. Foi precisamente isso que o presidente dos EUA, Joe Biden, fez esta semana, com uma nova tarifa de 100% sobre as importações chinesas de veículos elétricos.

A AIE ainda prevê um aumento nas vendas em 2024, o que nos manteria mais ou menos no caminho para o zero líquido. Mas entre os preços do Ocidente e a saciedade chinesa, é de esperar que a tensão entre o desejo dos Governos ocidentais de descarbonizar os transportes e o desejo de salvaguardar a sua indústria se torne mais aguda. O que, naturalmente, forçará os Governos a escolher em algum momento.