A Critical TechWorks é uma das mais vibrantes empresas em Portugal no setor automóvel: não produz um carro mas dos seus escritórios sai a tecnologia que coloca o futuro dos automóveis mais próximo. A joint-venture entre a Critical Software e o BMW Grou foi fundada em setembro de 2018 com o objetivo de apoiar a marca alemã na transformação digital da sua atividade e da experiência dos condutores e passageiros dos seus veículo.
Atualmente, a empresa conta com mais de 2.400 colaboradores, prevendo contratar mais 500 pessoas em 2024, distribuídos pelos três escritórios de Lisboa, Porto e Braga.
Do ponto de vista tecnológico, Paulo Guedes destacou recentemente o trabalho desenvolvido pela Critical TechWorks: o lançamento da nova viatura do BMW i5, com tecnologia da Critical TechWorks, que aconteceu em Lisboa, assim como a tecnologia lançada no novo Mini, com um novo conceito de LCD ‘cockpit’ redondo, e o desenvolvimento do piloto automático para os BMW i5 e i7 para condução autónoma em autoestrada até 60 quilómetros/hora.
“Neste momento, toda a tecnologia das viaturas BMW passa pela Critical TechWorks. Acho que já não existe uma viatura cuja produção seja viável sem a nossa tecnologia, seja ao nível da condução autónoma, do ‘infotainment’ [do inglês ‘information+entertainment’] e dos próprios processos de fabrico”, salienta o diretor financeiro. Atualmente, o grande foco ao nível do desenvolvimento de tecnologia para o carro tem estado “quase totalmente dirigido” ao lançamento da Neue Klasse, uma nova classe de veículos BMW, construídos em novas plataformas e com nova tecnologia.
Já ao nível da assistência ao condutor e condução autónoma, a empresa está envolvida num projeto que avalia, em tempo real, o nível de fadiga e atenção do condutor durante a viagem, de forma a prevenir acidentes e identificar situações de emergência, como a perda de consciência, para que posteriormente sejam ativados os contactos e protocolos necessários.
Face aos desafios – e concorrência – que enfrenta, falámos com Jochen Kirschbaum, Chief Operating Officer da Critical Techworks, que nos explica o que distingue a BMW das demais marcas automóveis no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico.
Em primeiro lugar, revela o especialista, a segurança dos carros. É possível que sejam ‘hackeados’?
“Primeiro, o risco existe, claramente. Os carros estão a tornar-se cada vez mais um alvo atrativos para os hackers. Digo sempre que não há 100% de segurança. No nosso desenvolvimento de software, a segurança desempenha um papel muito importante. Em Portugal, temos dezenas de técnicos de cibersegurança, que desenham e constroem os nossos sistemas de forma segura. Por essa razão, é crucial ter esse esforço, quer dizer, ninguém quer ser hackeado no seu carro. É um tópico que levamos muito a sério na BWM, e que cobrimos de forma muito séria porque é uma ameaça crescente”, refere Jochen Kirschbaum.
Existe o risco de o desenvolvimento das tecnologias nos automóveis se torne tão galopante que os deixará mais longe do bolso das pessoas?
“Não diria que o software seja basicamente um meio para tornar os carros mais caros. A introdução de tecnologia, cada vez mais induzida pelos softwares, é algo que acontece naturalmente nos carros, que se tornam cada vez melhores, mais inovadores, mais funcionalidades, mais inteligentes. E se se quer estar na ‘Premium League’, como fazemos na BMW – vemo-nos como os líderes tecnológicos. O que seria da BMW se disséssemos ‘vamos parar agora de investir em software e em inovação’ para poder vender carros a preços mais baixos. Os nossos competidores ficavam melhores do que nós. Nós damos todo o apoio, de forma muito clara, à liderança tecnológica e pela inovação nos nossos carros, seguramente.
A concorrência das marcas chinesas é algo que deixa receio? Ou é encarado como um desafio?
“Admiramos o que alguns ‘players’ chineses fazem, em termos de grau de inovação, mas há sempre que olhar para os dois lados: a barreira de entrada para construir carros diminuiu significativamente nos últimos anos porque desenvolver um motor de combustão é muito complexo, são precisas décadas de experiência. Já um motor elétrico é algo que se pode comprar de uma prateleira. Isso fez baixar a barreira de entrada significativamente para os ‘players’ chineses, que aproveitaram a oportunidade para entrar no mercado”, indica.
“Mas, por outro lado, estes novos ‘players’ não têm um legado. Quando nós trazemos uma nova versão de software, apresentamo-la compatível com todos os modelos. Temos sete milhões de carros suscetíveis a updates, somos os maiores operador de updates de software, mais do que a Volkswagen. Ter carros de 2018 no qual se pode hoje instalar novo software, com novas funcionalidades, segurança… essa capacidade de update dos carros é crucial em termos de segurança. Porque podemos identificar alguns problemas que podemos resolver imediatamente, e temos essa capacidade. Basicamente, lançar algo novo sem ter qualquer legado não é tão difícil. O difícil é dominar tudo em termos de integração”, refere, dando um exemplo.
“Não gosto de falar dos nossos concorrentes, mas a Tesla teve dificuldades nas últimas versões de forma significativa para trazer uma versão totalmente testada para todos os modelos. Houve updates que foram rejeitados porque não trabalhavam em todos os modelos. Isso é algo que não se vai ver na BMW”, garante.
A alemã BMW foi, explica-nos Jochen Kirschbaum, “a primeira a introduzir updates de software” nos seus veículos. “Conseguimos fazer o update de praticamente todas as linhas de código no carro inteiro, não para uma funcionalidade específica. Não é preciso ir à oficina porque o carro consegue fazer o download por si mesmo e o update demora 20 minutos. Temos 7 milhões de veículos por aí e nos últimos anos montámos mais de 120 updates”, conclui.