Nos últimos anos, a transição para uma mobilidade mais sustentável tem ganhado destaque em Portugal e em toda a Europa, impulsionada pela necessidade urgente de reduzir as emissões de carbono e combater as mudanças climáticas.
Num análise da XTB, por Vítor Madeira e Henrique Tomé, é lembrado que os “Governos têm implementado vários incentivos para promover a adoção de carros elétricos, tornando-os uma escolha mais atrativa tanto para particulares quanto para empresas”.
Em Portugal, os incentivos passaram por isenções fiscais, como a isenção do Imposto Único de Circulação (IUC) e do Imposto Sobre Veículos (ISV) para veículos 100% elétricos. Além disso, passaram a existir apoios financeiros diretos, como um subsídio de 4.000 euros para a compra de veículos ligeiros elétricos e incentivos adicionais para o abate de veículos antigos.
Para as empresas, os benefícios são ainda mais abrangentes, incluindo a dedução total do IVA na aquisição de veículos elétricos e nos custos associados ao carregamento dos mesmos. Estes esforços refletem uma abordagem abrangente para estimular a adoção de veículos elétricos, alinhada com os objetivos de sustentabilidade da União Europeia, que busca atingir a neutralidade carbónica até 2050.
Inicialmente, a procura por veículos elétricos aumentou significativamente, refletindo não apenas os incentivos governamentais, mas também uma crescente conscientização ambiental e avanços tecnológicos que tornam os veículos elétricos mais acessíveis e viáveis para o uso diário. No entanto, ao longo dos últimos meses têm-se notado abrandamentos nas vendas de carros elétricos e algumas mudanças nos padrões de consumo.
Alterações que podem vir a acontecer em Portugal
Inicialmente, o Fundo Ambiental anunciou que os apoios à aquisição de veículos elétricos não estavam previstos no orçamento para 2024, gerando apreensão entre consumidores e fabricantes. Esta situação provocou uma nova revisão do regulamento, e o Governo português indicou que está a considerar a renovação desses incentivos.
Em 2023, o Governo disponibilizou 10 milhões de euros para subsídios à compra de veículos elétricos, beneficiando até 1.300 veículos com um subsídio de 4.000 euros cada. Além disso, o Orçamento do Estado para 2024 prevê o regresso dos incentivos ao abate de veículos em fim de vida, que agora também poderão ser aplicados à compra de carros usados elétricos ou com baixas emissões.
Esta mudança é significativa, pois anteriormente apenas a aquisição de carros novos permitia usufruir deste incentivo. Para os veículos usados, o incentivo será destinado à compra de carros 100% elétricos com menos de quatro anos, enquanto para os novos, será possível adquirir modelos com motor a combustão desde que apresentem emissões reduzidas
As aquisições de carros 100% elétricos diminuíram em 0.3pp na primeira parte do ano (janeiro-maio) em comparação com o mesmo período do ano anterior. No caso dos plug-in híbridos aconteceu o mesmo cenário, ocorrendo uma redução de 0.2pp. Foi nos elétricos híbridos que se notou a grande diferença, passando de 25.1% de todas as vendas para 29.2%, sendo um aumento de 4.1pp.
Já os carros a combustão ainda representam uma fatia grande, mas ficaram abaixo dos 50%. Vejamos que em 2024 as vendas representaram 48.4% em comparação com os 52.1% do ano passado. Isto demonstra que veículos 100% a combustão estão a diminuir em relação às vendas totais de carros em linha com os objetivos da UE em reduzir a necessidade de combustíveis fósseis para os transportes ligeiros de passageiros. Os principais players no mercado dos elétricos na Europa
No que toca às empresas que mais venderam veículos totalmente elétricos na Europa nos primeiros 5 meses do ano foram: TESLA, BMW, VOLVO, VOLKSWAGEN, MG e Mercedes. Estas seis empresas são responsáveis por cerca de 46.6% de todas as vendas de veículos elétricos na Europa.
O destaque vai para a Tesla que se encontra no 1º lugar da tabela com 144.240 veículos tendo uma quota de mercado de cerca de 16.6% e muito superior à concorrência. Em 2º lugar ficou a BMW, com 68.207 veículos e uma quota de mercado de 7.88%, notem que é menos de metade comparada com a Tesla. No 3º lugar ficou a Volvo com 52.270 e uma quota de mercado de 6.04%. Nos seguintes lugares os registos ficaram mais equilibrados, sendo que Volkswagen, MG e Mercedes tiveram as respetivas quotas 5.89%, 5.06% e 5.05%.
Ainda assim, como se trata de um mercado relativamente recente, existe margem para aparecerem empresas mais pequenas ganharem quota de mercado e mesmo o aparecimento de novas empresas. Neste momento, cerca de 46.6% está concentrada em seis marcas. A distribuição da quota de mercado fica bastante diluída, já que existem 24 empresas com uma quota de mercado superior a 1%, representando 91% dos veículos elétricos vendidos.
Agora comparando os dados de 2023 com os dados de 2024, podemos ver que a Tesla perdeu terreno para outras empresas, passado de 19.37% para 16.66%, ainda que estas comparações não estão a ter em conta o período homólogo, mas sim em comparação com os dados totais do ano anterior. A BMW também sofreu queda semelhante com alguma perda de quota de mercado, caindo dos 7.88% para os 6.35%. Muito parecido foi a Volkswagen que também caiu de 8.34% para os 5.89%. Já a Volvo destaca-se pelo ganho de quota mercado nos EVs, subindo de 3.27% para 6.04%. No caso da MG e da Mercedes ficaram praticamente inalteradas, com a MG a cair 0.58 pp e a Mercedes a avançar com 0.26 pp na quota de mercado.
E a BYD? Onde está? Muito se tem falado da concorrência por parte da China na Europa, na verdade quando olhamos para os dados da BYD, esta empresa já se encontra no 12º lugar das empresas que vendem mais elétricos na europa. Isto representa 3.39% das vendas totais desde o início do ano. No entanto, vale a pena notar que no ano passado a BYD apenas conseguiu gerar 1.86% das vendas, o que demonstra que a sua procura por terras europeias cresceu substancialmente.
As imposições colocadas à China pela Europa podem ser justificadas pelo aumento generalizado deste consumo, como forma de protecionismo. Atualmente, na Europa, as taxas para carros elétricos importados da China são de 10%.No entanto, a Comissão Europeia está a considerar aumentar até 38% em breve, justificando com as práticas de concorrência desleal por parte de Pequim em benefício dos fabricantes chineses.
Numa perspetiva mais a longo prazo, segundo os dados da Bloomberg espera-se que o negócio dos carros elétricos continue a crescer acentuadamente por todo o globo, mais do que quintuplicando face aos valores atuais, atingindo os 8.8 biliões de dólares em vendas em 2030, os 30.1 biliões de dólares em 2040 e 56.7 biliões de dólares em 2050. As partes do globo mais interessadas em expandir os seus veículos para elétricos parecem ser a Europa, Índia e EUA. No entanto, o resto do mundo também vai ganhando a sua quota ao longo do tempo.