Da tendência à necessidade de um modelo de negócio adepto da solidariedade e sustentabilidade

Opinião de Pedro Saraiva, CEO da KINTO Portugal

Da tendência à necessidade de um modelo de negócio adepto da solidariedade e sustentabilidade

Por Pedro Saraiva, CEO da KINTO Portugal

Face à crescente preocupação com as questões ambientais e sociais, muitas empresas, de diferentes setores e reguladores, têm vindo a refletir sobre o seu impacto na comunidade e no meio ambiente. O setor automóvel, pela sua contribuição para a economia e sociedade, não escapa a este movimento de transformação. A adoção de políticas de responsabilidade social e práticas sustentáveis deixou de ser apenas uma tendência; tornou-se uma necessidade para empresas comprometidas em construir um futuro mais equilibrado e justo. Na Europa, em particular, é acelerada por requisitos regulamentares ao nível do reporte não financeiro.

Embora avanços significativos tenham sido alcançados, o setor automóvel ainda enfrenta desafios importantes. A sua pegada ecológica, por ter uma presença na cadeia de valor, desde a produção até a utilização de viaturas, até recentemente muito alimentada pelo uso de combustíveis fósseis e pela produção intensiva de veículos, é um tópico incontornável.

Além disso, a transparência relativamente a políticas de sustentabilidade (ESG) vai para além da contribuição na redução de emissões de CO2. Estendem-se à preservação do ambiente de forma mais amplificada “E-environment” (exemplo: tratamento de resíduos de produção, planos de redução de consumo de água nas fábricas, entre outros), na contribuição para uma sociedade melhor “S-social” (práticas de responsabilidade social, por exemplo, através de ações que contribuam para uma melhor sociedade) e também a práticas de gestão “G-governance” que preservem a sustentabilidade das empresas (políticas de gestão de risco, transparência e anticorrupção). Se pretendemos um futuro sustentável, é crucial que o setor invista nestas três dimensões, para uma transição mais abrangente, incorporando também formas de mobilidade que reduzam os impactos ambientais.

Esta transição para um futuro mais sustentável requer que o setor avance para uma mudança mais significativa, com a adoção de formas de mobilidade que minimizem os impactos ambientais. Assim, é importante que as empresas repensem os seus modelos de negócio e promovam alternativas ao uso individual do automóvel, incentivando a partilha de viaturas, a utilização de tecnologias de gestão de frotas mais eficientes e a adoção de soluções que reduzam o desperdício e aumentem a taxa de ocupação das viaturas. A transição para sistemas de aluguer flexíveis, nos quais é possível escolher o veículo conforme as várias necessidades, permite diminuir o número de veículos em circulação e reduzir a procura por novas viaturas e, consequentemente, mitigar a pegada de carbono do setor.
Contudo, a responsabilidade social vai além da sustentabilidade ambiental. Implica um compromisso genuíno com o bem-estar da comunidade e com o desenvolvimento social. Este compromisso pode ser traduzido em iniciativas como o apoio a projetos sociais, parcerias com organizações sem fins lucrativos e programas que visem beneficiar grupos mais vulneráveis. Também é essencial que as empresas se comprometam com a transparência nas suas práticas e comuniquem claramente as suas políticas de responsabilidade social. Os consumidores estão cada vez mais atentos às atitudes das marcas e procuram alinhar as suas escolhas com valores éticos e sustentáveis.

Os exemplos anteriores devem ser transpostos para o relatório CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive). O CSRD é um relatório semelhante aos relatórios e contas financeiras das empresas, orientado para ESG. Passa a ser obrigatório para todas as empresas que cumpram alguns critérios (dimensão de negócio e número de empregados > 250 pessoas). Ou seja, para cada iniciativa relacionada com cada uma das dimensões as empresas têm que definir KPIs que as sustentem, assim como o seu impacto.

Adotar uma abordagem sustentável não é apenas uma questão ética; é também uma decisão estratégica. Em qualquer setor, empresas que abraçam práticas sustentáveis conseguem, simultaneamente, ganhar a confiança dos consumidores, reduzir custos operacionais e aumentar a sua competitividade. Na área da mobilidade, onde a sustentabilidade é intrínseca ao próprio modelo de negócio, o compromisso com práticas responsáveis pode ser um diferencial competitivo que reforça a reputação e a posição da marca no mercado.

A transição para uma mobilidade mais ecológica e inclusiva representa uma oportunidade única para o setor automóvel como um todo, incluindo empresas de serviços de mobilidade. Não só permite às empresas destacarem-se, como também lhes oferece a oportunidade de contribuir para um futuro mais sustentável e solidário. Aqueles que abraçam essa transformação têm o potencial de moldar um mundo mais equilibrado e de criar um legado positivo para as gerações futuras.