Perante um sério alerta de falta de capacidade na sua rede elétrica, há uma cidade nos Países Baixos que encontrou uma solução invulgar: encher as suas ruas com carros elétricos. É uma ideia de génio… ou um convite para o desastre?
É o caso de Utrecht, que tem um grave problema: a população não pára de crescer e, com 374 mil habitantes em 2023, a autarquia já alertou para a sobrecarga da rede elétrica. Os problemas são iminentes para os grandes consumidores – escritórios, fábricas, supermercados – e é expectável que em 2026 possam atingir os pequenos consumidores, como as famílias.
Então como pode uma enorme frota de elétricos Renault 5 partilhados resolver este problema de escassez de eletricidade?
Se uma cidade consumir mais eletricidade do que a capacidade da rede, o sistema entra em colapso. Se forem acrescentados novos consumidores, como estes 500 EV que consomem eletricidade da rede, o problema só piorará.
A diferença está, por um lado, no carregamento inteligente que os EV conseguem fazer, que recarregam apenas na hora certa, quando a rede da cidade o suporta, longe dos picos, nos momentos de menor consumo. Em segundo lugar, devido à funcionalidade V2G (‘Vehicle to Grid’) que, com carregadores reversíveis, permite que a eletricidade da bateria do carro seja devolvida à rede quando for conveniente. Logicamente, quando falta, os carros abrem mão de parte da sua energia, para recarregar novamente mais tarde. O projeto mal cobre 10% da flexibilidade necessária à região de Utrecht, pelo que seriam necessários 5.000 carros.
Até agora, havia dois cenários em que o regresso da energia da bateria para a rede era apropriado: na primeira, era devido à programação do condutor no carro porque o preço da eletricidade era muito elevado; a segunda, em situações de emergência, quando o veículo era capaz de suprir durante horas – ou mesmo dias – as necessidades elétricas da residência onde era alimentado, invertendo o sentido da energia elétrica até que o serviço fosse restabelecido.
Ma agora abre-se nova via em Utrecht: o apoio planeado de uma rede numa situação extrema, mas constante e conhecida, não uma emergência ou catástrofe. A Renault tem vindo a testar projetos-piloto de “grande escala” desde 2019, embora envolvessem apenas 15 Renault Zoes em Utrecht e na ilha da Madeira. Neste projeto piloto em Utrecht, a Hyundai também incorporou 25 Ioniq 5 com a sua característica função V2G. Nessa primeira abordagem, tratou-se de tentar estabelecer padrões: a solução Renault implementou a reversibilidade do carregamento no próprio carregador do automóvel, com a tecnologia V2G da Mobilize, pelo que os pontos de carregamento necessitavam de uma adaptação com custo mínimo.