Um automóvel em bom estado deve funcionar de forma fluida e sem ruídos ou odores estranhos. No entanto, quando surgem sons inesperados ou cheiros desagradáveis, é essencial prestar atenção, pois podem ser sinais de problemas mecânicos graves.
“Os carros modernos são muito eficientes a ajustar-se automaticamente a pequenos problemas, o que significa que, muitas vezes, não nos apercebemos de imediato de que algo está errado”, explica Bogi Lateiner, mestre em mecânica automóvel e proprietária da Girl Gang Garage, uma organização que promove formação prática para mulheres em áreas técnicas. “Mas quando começa a sentir um cheiro estranho, ouvir um ruído invulgar ou notar manchas no chão da garagem, é sinal de que a situação já se agravou.”
Lateiner sublinha que ignorar estes sinais pode trazer consequências dispendiosas ou até perigosas. “O seu carro está a tentar comunicar consigo. Está a dizer: ‘Não estou bem’. Por favor, não ignore esses avisos.”
Aqui estão nove sinais – entre cheiros e sons – que qualquer condutor deve levar a sério.
1. Cheiro a óleo queimado
O cheiro a óleo queimado tem um odor industrial intenso e pode indicar um vazamento na zona do motor ou do sistema de direção assistida, onde o óleo se pode estar a acumular em superfícies quentes.
“Os vazamentos de óleo são problemáticos por duas razões”, explica Lateiner. “Primeiro, porque significa que o óleo não está a lubrificar corretamente os componentes do motor. Segundo, porque pode estar a derramar-se sobre partes quentes do carro, criando um risco de incêndio.”
Caso detete manchas no chão, observar a cor do fluido pode ajudar o mecânico a identificar a origem do problema. O óleo do motor tende a ser castanho, enquanto o fluido da transmissão ou da direção assistida pode ter um tom avermelhado.
2. Cheiro a borracha queimada
Este odor pode indicar problemas nos travões, nomeadamente nos calipers (pinças de travão), que são responsáveis por apertar as pastilhas contra os discos para imobilizar o veículo.
“Se os calipers estiverem a falhar, podem bloquear a roda, fazendo com que o pneu fique agarrado ao asfalto e impedindo um rolamento adequado”, alerta Chad Cantrell, mecânico da Forest Brook Automotive, na Virgínia.
Este é um problema que deve ser verificado imediatamente, pois pode provocar desgaste prematuro dos pneus e dificultar o controlo do veículo.
3. Cheiro doce e enjoativo
Se detetar um odor semelhante a xarope quente dentro do carro ou perto do motor, pode ser um sinal de fuga de líquido de refrigeração.
“O líquido de refrigeração não é inflamável, mas a falta dele pode levar a um sobreaquecimento do motor, o que resulta em reparações muito dispendiosas”, avisa Lateiner.
Resolver uma fuga de líquido de refrigeração é relativamente barato, mas ignorá-la pode levar a danos irreversíveis no motor.
4. Cheiro a plástico queimado
Se sentir um cheiro a plástico derretido, pode haver um cabo elétrico solto a tocar no sistema de escape ou um saco de plástico preso na parte inferior do carro.
“Se for apenas um saco de plástico, pode ignorar e esperar que queime por completo”, diz Lateiner. “Mas se for um problema elétrico, precisa de ser resolvido rapidamente.”
Problemas elétricos podem causar curtos-circuitos e incêndios, pelo que é aconselhável levar o carro a uma oficina sem demora.
5. Cheiro a mofo
Se o habitáculo do carro tiver um odor semelhante a meias húmidas, o problema pode estar no filtro do habitáculo, onde se pode acumular humidade e mofo, especialmente em climas húmidos.
“O filtro do habitáculo é responsável pela qualidade do ar que respira dentro do carro”, explica Lateiner. “Muitas pessoas nem sabem que o seu carro tem um, por isso acabam por nunca o substituir.”
Felizmente, esta é uma substituição fácil e acessível que pode melhorar significativamente a qualidade do ar dentro do veículo.
6. Cheiro a ovos podres
Este odor desagradável pode ser um sinal de que o conversor catalítico do carro está a falhar. Este componente é essencial para reduzir as emissões poluentes, e o seu mau funcionamento pode afetar o desempenho do veículo.
Lateiner alerta que, se este cheiro surgir repentinamente e for acompanhado por um som alto do motor, o conversor catalítico pode ter sido roubado.
“Se o carro estava bem no dia anterior e, de repente, faz um barulho ensurdecedor ao ligar, é provável que alguém tenha cortado o seu conversor catalítico durante a noite”, explica. Estes componentes contêm metais valiosos e são um alvo frequente de ladrões.
7. Ruídos nos travões
Os travões são essenciais para a segurança do veículo, e qualquer som invulgar deve ser investigado.
Se ouvir um som agudo apenas de manhã, pode ser apenas ferrugem superficial nos discos, algo normal. No entanto, um som de “rajada de metralhadora” ao virar o volante pode indicar um problema com o semieixo, o que pode deixar o condutor imobilizado se não for reparado.
O pior som possível é um ruído de fricção metálica contínuo. “Se ouvir um chiar constante, significa que os discos e as pastilhas estão a desgastar-se até ao metal, o que pode comprometer a eficácia dos travões”, alerta Cantrell.
Ignorar este problema pode resultar numa falha total do sistema de travagem, tornando a condução extremamente perigosa.
8. Ruídos de impacto
Barulhos de pancadas secas (“clunking”) podem indicar problemas na suspensão, nomeadamente com as buchas, juntas esféricas ou barras estabilizadoras.
“Os carros mais antigos começam a fazer barulhos semelhantes aos das nossas articulações quando envelhecemos”, brinca Lateiner. “Isso acontece porque algumas peças da suspensão, cuja função é permitir movimento controlado, começam a desgastar-se.”
Cantrell alerta que ignorar este problema pode levar a falhas graves, como a rutura da junta esférica, o que pode fazer com que a carroçaria do carro caia sobre os pneus.
9. Ruídos de chocalho
Um som metálico de chocalho pode ter causas variadas, desde um suporte de escape solto até problemas mais graves, como um tensor da corrente de distribuição defeituoso.
“Se este som vem do compartimento do motor, pode indicar que a corrente de distribuição está a falhar, o que pode provocar uma avaria completa do motor”, adverte Cantrell.
Se notar este ruído, deve levar o carro a um mecânico para uma inspeção detalhada.
Como ajudar o mecânico a diagnosticar o problema
Mesmo que não tenha conhecimentos técnicos, pode ajudar o mecânico a identificar rapidamente a avaria do seu veículo.
“Quando levar o carro à oficina, tente descrever o problema com o máximo de detalhe possível”, aconselha Cantrell. “Diga quando acontece, a que velocidade e em que condições.”
Gravar o som estranho ou explicar como ele se manifesta pode poupar tempo e dinheiro. “Se conseguir reproduzir o som para o mecânico, pode acelerar bastante o diagnóstico e evitar custos desnecessários”, conclui Lateiner.