Fabricantes avisam que as normas Euro NCAP ameaçam os carros pequenos e acessíveis

Fabricantes avisam que as normas Euro NCAP ameaçam os carros pequenos e acessíveis

Com a evolução tecnológica, que equipa os carros com uma série de recursos, e consumidores mais exigentes, as normas Euro NCAP estreitam-se. Segundo os responsáveis da Citroën e da Dacia, isto ameaça a acessibilidade dos seus modelos.

Apesar de aceitarem os esforços governamentais para melhorar a segurança dos veículos todos os anos, no âmbito do quadro legislativo GSR2 da União Europeia, a Citroën e a Dacia avisam que as normas mais rigorosas estabelecidas por organismos de testes como o Euro NCAP não correspondem às expectativas dos consumidores.

O Euro NCAP é um programa europeu de avaliação de segurança automóvel, que procura ajudar os consumidores, as suas famílias e as empresas a comparar mais facilmente os veículos e a identificar a escolha mais segura para as suas necessidades.

Esta avaliação é feita por via de um sistema de classificação de segurança de cinco estrelas, construído a partir de uma série de testes de veículos.

Para Thierry Koskas, da Citroën, e Denis Le Vot, da Dacia, no entanto, as normas de segurança automóvel cada vez mais rigorosas estão a ameaçar a acessibilidade dos seus modelos.

Na perspetiva dos organismos de testes de segurança, por sua vez, as regras são um indicador importante para os compradores, uma vez que as estradas são cada vez mais movimentadas e os automóveis mais complexos.

O Europ NCAP pode entregar até cinco estrelas a um automóvel, indicando ao comprador o grau de segurança de um determinado modelo.

Conforme recordado pelo Autocar, a partir do próximo ano, o sistema deverá tornar-se mais rigoroso, com a classificação máxima a exigir que um automóvel apresente “um desempenho globalmente excelente em matéria de proteção contra acidentes e [esteja] bem equipado com tecnologia de ponta para evitar acidentes“.

Isto inclui os sistemas de segurança passiva (como airbags e cintos de segurança), e os ativos (sistemas avançados de assistência ao condutor).

Perante este cenário, Thierry Koskas, da Citroën, e Denis Le Vot, da Dacia, argumentam que, para atingirem preços acessíveis, não podem instalar a dispendiosa tecnologia de segurança “topo de gama” exigida pelas classificações mais elevadas.

Por exemplo, o novo Duster, o SUV mais barato do mercado, recebeu três estrelas do Euro NCAP.

Não temos nada contra o NCAP, mas quando surgiu esta corrida às estrelas da segurança ativa, não estávamos interessados. Na altura, dissemos: “Não estamos a perseguir as estrelas, não estamos a perseguir as estrelas, não estamos a perseguir as estrelas”.

Disse Le Vot, acrescentando que as fabricantes se preocupam com a segurança passiva e, por isso, seguem os regulamentos, criteriosamente.

O nível de segurança que os nossos automóveis estão a oferecer é ótimo. Talvez não seja o nível mais alto em termos de pontuação no Euro NCAP, mas é ótimo.

Por sua vez, Koskas disse que a missão das fabricantes era muito simples: “apenas cumprir os regulamentos que já têm um nível muito elevado; os governos cuidam dos seus cidadãos, fazem o que é necessário em termos de regulamentação e não vejo necessidade de ir mais longe“.

 

O Euro NCAP sempre foi muito além da legislação

Apesar da posição dos executivos das duas fabricantes, Richard Billyeald, membro do conselho de administração do Euro NCAP e diretor técnico da Thatcham Research, argumenta que os padrões mais elevados exigidos pelos reguladores e as classificações por estrelas que lhes estão associadas são importantes para os consumidores.

O Euro NCAP sempre foi muito além da legislação, e é para isso que foi concebido. A legislação tem de ser uma fasquia muito baixa: tem de ser bastante ampla e abranger os aspetos fundamentais. O Euro NCAP promove a tecnologia. Trata-se do que é possível, do que a tecnologia pode fazer para aumentar a segurança, para melhorar as coisas.

Disse Billyeald, reconhecendo que, para nomes como a Citroën e a Dacia, que estão a tentar chegar a um ponto de preço mais baixo, trata-se de um desafio.

Ainda assim, o executivo do Euro NCAP defendeu que, embora não possam instalar sistemas que “tenham todos os sinos e assobios“, podem “visar [a segurança] em sítios diferentes“, por exemplo, em termos de facilidade de utilização.

Relativamente à classificação por estrelas, Billyeald destacou a simplicidade: “Penso que é necessária essa simplicidade. Por exemplo, a minha mãe não vai comprar um carro com base em percentagens [de testes]; vai olhar para a classificação por estrelas e saber, por inerência, o que isso significa. Por isso, penso que o conceito é absolutamente correto“.