Sem fusões, Renault e Stellantis juntam-se para “lutar pelo futuro dos carros pequenos”

Sem fusões, Renault e Stellantis juntam-se para “lutar pelo futuro dos carros pequenos”

Esta não é a primeira vez que as fabricantes alertam para a necessidade de desenvolver carros para as pessoas comuns: modelos menores, mas capazes e mais baratos. Em conjunto, mas sem fusões à vista, a Renault e a Stellantis juntaram-se para lutar pelo futuro dos automóveis pequenos.

Após uma entrevista em duas partes publicada no Le Figaro, o diretor-executivo do Grupo Renault, Luca de Meo, e o presidente da Stellantis, John Elkann, voltam a endereçar uma mensagem conjunta à União Europeia (UE).

Numa intervenção na Future of the Car Summit do Financial Times, os líderes dos dois grupos insurgiram-se contra o prazo de 2035 da UE e do Reino Unido para a venda de automóveis de combustão.

 

Líderes da Renault e Stellantis pedem simplificação das regras

Os executivos concordaram que a descarbonização da indústria automóvel depende de uma abordagem mais flexível, em vez de um quadro de “prazos e multas” que, em última análise, torna os automóveis mais caros para o consumidor.

Estamos aqui para lutar pela ideia de que os automóveis pequenos ainda têm um propósito e podem ser uma das formas de reiniciar o mercado automóvel na Europa.

A batalha da indústria é reduzir o impacto dos transportes. O mais óbvio é produzir automóveis que tenham um impacto globalmente menor, e este é o caso dos automóveis pequenos.

Disse o diretor-executivo do Grupo Renault.

Na mesma linha de pensamento, Elkann recordou que as raízes dos dois grupos “estão nos automóveis pequenos que foram, de facto, a força motriz da prosperidade nos países europeus a que pertencemos”, nomeadamente modelos como o Renault 5 e o Fiat 500.

Na sua perspetiva, os carros pequenos deram a muitas pessoas a possibilidade de “desfrutar da liberdade de que se desfruta com os automóveis”.

Contudo, “cresceram como se tivessem ido ao ginásio durante anos: tornaram-se caros, excessivos e muitas vezes fora do alcance do cliente médio”.

Na perspetiva de Elkann, o problema reside essencialmente no excesso de regulamentação que impacta significativamente os custos.

Com menos e mais claras regras, as fabricantes poderão garantir a construção de automóveis mais baratos e, por conseguinte, mais acessíveis ao consumidor.

 

Empresas e clientes não deveriam ter de ir do 8 ao 80 tão rápido

Mais do que pensar em automóveis novos com zero emissões, o presidente da Stellantis diz que a UE e os países europeus devem focar-se em reduzir as emissões dos 250 milhões de carros que já circulam atualmente nas estradas do bloco.

Os líderes dos dois grupos propõem, neste sentido, a introdução de legislação que permita a produção e a venda de automóveis pequenos com emissões mais baixas, em vez de emissões zero, a curto ou médio prazo.

Isto significaria que o aumento de preços decorrente da eletrificação seria mais gradual, reduzindo mais rapidamente a emissão de CO2 do parque automóvel europeu.

De acordo com Luca de Meo, haveria uma redução mais rápida e mais óbvia da produção global de CO2 na Europa se os proprietários de automóveis de combustão Euro 2 e Euro 3 mudassem para uma alternativa Euro 6 mais limpa – e mais tarde para um carro elétrico, em vez de passarem diretamente de um carro velho a gasolina ou diesel para um equivalente elétrico muito mais caro.

Precisamos de falar de estratégia. Precisamos de colocar os nossos engenheiros nos caminhos certos para criar uma vantagem competitiva para a indústria europeia.

Disse o líder da Renault, reforçando que, para conseguir esta mudança de mentalidade e de regulamentação, a indústria e os políticos têm de ser “muito, muito pragmáticos”.

 

Os carros estão maiores, mas as estradas mantêm-se estreitas

Para Luca de Meo, a promoção da venda de automóveis maiores tem, também, implicações negativas óbvias para os ambientes urbanos mais antigos da Europa.

Isto, porque, enquanto os veículos aumentaram de tamanho ao longo das décadas, as estradas em que circulam não cresceram.

Na década de 1980, 50% do mercado tinha menos de quatro metros. Atualmente, é de 5%. Isto é um facto. Mas acham que as ruas medievais de Salamanca, Sienna ou Heidelberg mudaram de dimensão?

Questionou o presidente do Grupo Renault, reforçando a necessidade de carros mais pequenos.