É raro um automóvel passar toda a vida num único país. Muitas vezes, após alguns anos de utilização, os veículos são vendidos e exportados para outros países, onde encontram novos proprietários.
Em Portugal, essa tendência mantém-se há anos: a maioria dos veículos em segunda mão que são importados vem de França e da Alemanha. No entanto, um estudo da ‘carVertical’, empresa especializada em dados do setor automóvel, revelou que muitos carros provenientes do estrangeiro apresentam frequentemente adulterações no conta-quilómetros, ou defeitos ocultos.
Os portugueses preferem veículos usados da Europa Ocidental
A maioria dos veículos importados que circulam em Portugal são provenientes da Europa Ocidental. Dos veículos importados verificados pela ‘carVertical’ em 2024, 40,3% eram importados de França, 19,6% da Alemanha, 17% da Bélgica, 7,8% dos Países Baixos, e 2,6% de Itália.
“Os portugueses tendem a optar por veículos franceses em segunda mão, como Renault, Peugeot e Citroën, devido ao seu preço acessível. Por isso, França continua a ser o principal país de importação de carros usados. Neste país, muitos veículos são devolvidos aos concessionários no final dos contratos de leasing, o que gera um fluxo constante de automóveis usados e bem conservados, que depois são vendidos noutros mercados europeus”, explicou Matas Buzelis, especialista automóvel da carVertical.
A importação de veículos da Alemanha e da Bélgica também é comum, pois oferecem uma vasta seleção de automóveis com um historial de manutenção rigoroso.
Veículos importados nem sempre são a melhor escolha: muitos têm o conta-quilómetros adulterado
Embora muitos compradores de carros usados em Portugal prefiram veículos importados, Buzelis alertou que fechar negócio sem uma verificação adequada pode ser arriscado. Muitos desses veículos têm a quilometragem adulterada ou apresentam defeitos ocultos. Além disso, os carros que sofreram acidentes são frequentemente reparados com peças baratas e não originais, o que pode comprometer a fiabilidade a longo prazo.
Segundo um estudo da ‘carVertical’, os veículos importados da Polónia para Portugal apresentam o maior risco de fraude no conta-quilómetros, com 9,5% dos veículos verificados a registarem discrepâncias. Seguem-se a Lituânia (5,4%), os EUA (3,6%), a Itália (3,2%) e a Espanha (3,1%).
Descobrir onde a adulteração do conta-quilómetros ocorreu pode ser um desafio. Muitas vezes, o veículo chega do estrangeiro com uma determinada quilometragem, mas é o vendedor local que falsifica o valor do conta-quilómetros na tentativa de inflacionar o valor de venda da viatura.
Como muitos países não partilham informações sobre o histórico dos veículos, os vendedores desonestos acabam por beneficiar desta situação. É essencial que os fornecedores de dados e as empresas colaborem para aumentar a transparência no mercado automóvel. “Nalguns casos, os compradores nem sequer se apercebem de que o carro que estão a adquirir é importado, o que facilita a ocultação de informações críticas, como acidentes anteriores, quilometragem real ou até registos de furto”, alertou Buzelis.
Os compradores devem verificar o historial do automóvel, confirmar a sua origem e levá-lo a um serviço de revisão profissional para avaliar o seu verdadeiro estado.
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