“Vamos ver a avó”: a história da mulher que mudou a história do automóvel até hoje

Nascida a 3 de maio de 1849, em Pforzheim (Alemanha), Bertha cresceu entre as ferramentas da oficina do seu pai e desenvolveu desde cedo um interesse por mecânica, algo incomum para uma mulher da sua época

“Vamos ver a avó”: a história da mulher que mudou a história do automóvel até hoje

Bertha Benz foi muito mais do que apenas a mulher de um inventor: o seu nome ganha destaque por ter sido uma pioneira indiscutível na história da indústria automóvel, graças a uma decisão fulcral: assumir o volante quando ninguém esperava.

Nascida a 3 de maio de 1849, em Pforzheim (Alemanha), Bertha cresceu entre as ferramentas da oficina do seu pai e desenvolveu desde cedo um interesse por mecânica, algo incomum para uma mulher da sua época.

Conheceu Carl Benz quando este ainda sonhava em criar um veículo sem cavalos. Casaram-se em 1872, e ela não só partilhou a visão dele como também a financiou com o seu próprio dote – uma decisão legalmente arriscada, já que as mulheres não tinham permissão para ser sócias na época. Apoiou cada passo do marido, mesmo quando a patente do Benz Patent-Motorwagen foi recebida com ceticismo e ninguém parecia querer comprar a estranha engenhoca de três rodas.

No verão de 1888, com Carl desmoralizado pela falta de interesse comercial, Bertha tomou uma decisão ousada. Sem avisar o marido, entrou no carro com dois dos cinco filhos (Eugene, Richard, Clara, Thilde e Ellen) e deixou um breve bilhete: “Vamos ver a avó.” Assim começou a primeira viagem de automóvel de longa distância da história, cujo objetivo era mostrar ao mundo que a invenção do marido não apenas funcionava, mas tinha futuro.

Gasolina em farmácias e garfos para conserto de motores

A jornada começou em Mannheim, rumo à cidade natal de Bertha, Pforzheim, percorrendo estradas de terra durante todo o trajeto de ida e volta, com 194 quilómetros. Os problemas não demoraram a surgir: a gasolina, então chamada ligroína, era vendida apenas em farmácias, pelo que a primeira paragem foi na farmácia de Wiesloch, hoje reconhecida como o primeiro “posto de gasolina” do mundo.

Ao longo do caminho, Bertha improvisou como pôde: desentupiu uma válvula com um alfinete de chapéu, cobriu um fio desencapado com um elástico, consertou uma corrente com a ajuda de um ferreiro em Bruchsal e aprimorou os travões de madeira com solas de sapato. As subidas exigiram até que o veículo fosse empurrado. Após mais de 12 horas de viagem, chegou a Pforzheim com os seus filhos e um feito histórico.

A viagem de regresso foi mais bem planeada: escolheu uma rota menos íngreme e aproveitou a experiência da viagem de ida para planear outras paragens. Ao regressar a Mannheim, a notícia da viagem já se havia espalhado: aquela mulher havia feito o que nem mesmo a melhor campanha de marketing da época conseguiria: demonstrar a real utilidade do carro.

Embora o reconhecimento não tenha sido imediato, essa jornada marcou um ponto de viragem. O Benz Patent-Motorwagen começou a despertar interesse e, aos poucos, a empresa cresceu. Anos mais tarde, após a fusão com a Daimler, surgiu a marca Mercedes-Benz. O nome homenageia a filha de um investidor, não Bertha, mas a história sabe bem a quem deve parte desse legado. Viria a falecer em Ladenburg a 5 de maio de 1944, aos 95 anos.

Uma rota comemorativa transformada em atração turística

Desde 2008, a rota percorrida por Bertha Benz no primeiro carro com motor de combustão pode ser percorrida como parte da Rota Memorial Bertha Benz, uma das rotas turísticas mais especiais da Alemanha. A rota passa por mais de 30 cidades, começando em Mannheim e continuando até Pforzheim, passando por Heidelberg, Wiesloch, Bruchsal, Hockenheim e outras cidades. A farmácia em Wiesloch ainda existe e ostenta uma placa comemorativa.

A jornada de Bertha Benz tornou-se um símbolo de inovação e coragem e destacou o papel fundamental que as mulheres desempenharam em avanços marcantes.

Hoje, mais de 135 anos depois, essa jornada é lembrada não apenas pela sua audácia, mas também como um símbolo de inovação, coragem e do papel fundamental que as mulheres desempenharam em avanços que marcaram uma época.

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