Luca de Meo, um dos mais influentes líderes da indústria automóvel nas últimas décadas, vai abandonar a Renault e o setor automóvel para assumir o cargo de CEO do grupo de luxo francês Kering, proprietário de marcas como Gucci, Balenciaga, Saint Laurent, Bottega Veneta e Alexander McQueen. A decisão foi confirmada esta segunda-feira pelo conglomerado de luxo e marca uma viragem inesperada na carreira do gestor italiano.
A sua saída representa um verdadeiro terramoto na indústria, que já enfrentava dificuldades em atrair e reter talento ao mais alto nível — um alerta para a perda de atratividade do setor automóvel europeu.
Depois de ter recuperado a Seat da falência, criando a marca Cupra como ativo estratégico, Luca de Meo entrou para a Renault em 2020, numa altura crítica. Trouxe consigo parte da sua equipa da Seat, incluindo Josep María Recasens, atual número dois do grupo francês, e lançou o ambicioso plano de transformação “Renaulution”. Sob a sua liderança, a Renault passou de prejuízos de 8 mil milhões de euros em 2020 para lucros de 752 milhões em 2024 — valor que poderia ter atingido 2,8 mil milhões, não fosse o impacto negativo da Nissan.
A saída de De Meo acontece numa fase particularmente delicada para o setor automóvel, que enfrenta o desafio da transição energética, a concorrência crescente dos fabricantes chineses e a mudança nos hábitos de consumo.
A decisão surge também após a recente saída de outros pesos pesados do setor como Carlos Tavares (Stellantis) e Wayne Griffiths (Seat), deixando a indústria órfã de grandes figuras.
A dificuldade em substituir estes líderes é ilustrada pelo caso da Stellantis, que, após seis meses de procura e tentativas de atrair Luca de Meo, acabou por nomear o italiano Antonio Filosa como CEO, com um salário inferior ao de Carlos Tavares, que em 2024 arrecadou 23 milhões de euros.
A partir de 15 de setembro, Luca de Meo assume oficialmente o cargo de CEO da Kering, substituindo François-Henri Pinault na gestão executiva da empresa, num movimento que separa as funções de CEO e presidente do conselho de administração. Começa assim um novo capítulo para um gestor que marcou uma era — e que agora leva a sua visão estratégica para o universo do luxo.
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