Uma eventual escalada de tensões no Estreito de Ormuz, já agravadas pelo recente ataque dos Estados Unidos ao Irão, poderá ter efeitos quase imediatos nos preços dos combustíveis em Portugal. A avaliação é feita por António Nabo Martins, presidente executivo da Associação dos Transitários de Portugal (APAT), que alerta, em declarações à CNN Portugal que “o impacto sentir-se-á muito rapidamente”.
Este estreito estratégico, com apenas 53,5 quilómetros de largura na sua zona mais estreita, é uma das mais importantes rotas do comércio mundial de petróleo. Diariamente, por ali transitam cerca de 20,1 milhões de barris de crude — o equivalente a 27% do comércio marítimo global de petróleo —, representando cerca de 1,29 mil milhões de euros por dia, segundo dados do Departamento de Energia dos EUA e da Agência Internacional de Energia (IEA).
Nos últimos dias, o Irão voltou a ameaçar o fecho do Estreito de Ormuz, através do qual circula mais de 20% do comércio marítimo de petróleo, o que tem provocado receios nos mercados. Como explica Nabo Martins à CNN Portugal, mesmo sem um bloqueio efetivo, os preços já começaram a refletir esta tensão: “O bloqueio ainda não aconteceu, mas o preço dos combustíveis em Portugal já começou a aumentar esta segunda-feira — e de uma forma considerável”.
Caso as ameaças iranianas se concretizem, a alternativa passará por desviar o tráfego para outras rotas, com custos acrescidos. “Imediatamente, haverá uma transição para uma outra rota alternativa e isso terá custos”, sublinha Nabo Martins, frisando que, embora o petróleo já em trânsito não deva sofrer aumentos por questões de ética comercial, “todas as cargas que a partir desse momento sejam impactadas por esse bloqueio sofrerão seguramente aumentos consideráveis”. No entanto, reconhece que em períodos de crise “a ética também tende a ficar um bocadinho para trás”.
O estreito de Ormuz não tem alternativas marítimas viáveis e o transporte aéreo seria economicamente inviável. Segundo o presidente da APAT, “a alternativa teria de ser terrestre”, mas esta solução seria lenta e arriscada, uma vez que muitas das rotas terrestres são afetadas por outros conflitos, nomeadamente na Ucrânia e Rússia. Além disso, “um processo destes significa que haverá menos disponibilidade de combustíveis fósseis”.
Até agora, o conflito entre Israel e o Irão, mesmo após o ataque norte-americano, não afetou significativamente o tráfego no Estreito de Ormuz, ao contrário do que aconteceu no Estreito de Bab al-Mandab, onde ataques dos rebeldes Huthis obrigaram os navios a grandes desvios, encarecendo os custos. Contudo, o cenário permanece incerto e, caso a situação se agrave, “provavelmente vamos ter de ir procurar combustíveis ao outro lado”, admite Nabo Martins, acrescentando que “tirando aquela zona do globo onde se produz mais petróleo e obviamente não temos o russo também, é o lado americano”.
Face ao contexto atual, Nabo Martins não esconde a preocupação: “Recentemente havia analistas que diziam que era muito difícil fechar-se o Estreito de Ormuz, mas — e peço desculpa pela minha expressão — acho que já está tudo louco”. E reforça: “A única palavra que tenho para isto é que isto é loucura, loucura completa. Quero acreditar que não vai acontecer, pelo menos não a 100%, porque terá um impacto a nível mundial”.
Enquanto persistem estas incertezas, uma coisa parece certa para Nabo Martins: “Tudo isto vai impactar nos preços dos bens de consumo e na carteira das pessoas”.
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