Perante funcionários jovens insatisfeitos e sobrecarregados, o atual diretor-executivo da Ford decidiu adotar a estratégia que o fundador da empresa usou, em 1914: “quero que os meus funcionários comprem os meus carros”.
Os livros contam-nos sobre Henry Ford, com alguns economistas a atribuírem-lhe o mérito de ter impulsionado a classe média americana no século XX, quando, em janeiro de 1914, aumentou os salários dos seus funcionários para cinco dólares. Na altura, este valor era mais do que o dobro do salário médio por um dia de trabalho de oito horas.
Agora, mais de 100 anos depois, o visionário da altura inspirou o atual líder da Ford.
Numa entrevista ao jornalista e biógrafo Walter Isaacson, no Aspen Ideas Festival, na semana passada, Jim Farley, diretor-executivo da empresa, admitiu que promoveu trabalhadores temporários, que “se desdobravam” entre vários trabalhos para conseguir sobreviver, a funcionários a tempo inteiro.
Segundo a Forbes, o executivo reconheceu a necessidade de uma mudança na empresa, após conversar com funcionários mais velhos, durante as negociações do contrato sindical.
Os funcionários mais antigos da empresa disseram: “Nenhum dos jovens quer trabalhar aqui. Jim, pagas 17 dólares por hora, e eles estão muito stressados”.
Contaram os veteranos da empresa, partilhando que alguns dos jovens mantinham empregos na Amazon, onde trabalhavam oito horas antes de começar um turno de sete horas na Ford.
Jim Farley, diretor-executivo da Ford
Promovendo os funcionários temporários a funcionários a tempo inteiro, a Ford tornou-os elegíveis para salários mais altos, cheques de participação nos lucros e melhor cobertura de saúde.
Esta mudança foi acordada, em 2019, nas negociações contratuais com o Sindicato dos Trabalhadores Automóveis Unidos: os trabalhadores temporários começaram a poder ser contratados a tempo inteiro, depois de dois anos de emprego contínuo na Ford.
Segundo Jim Farley, “foi caro, mas acho que esse é o tipo de mudança que precisamos de fazer no nosso país”.
À semelhança da estratégia de Henry Ford, em 1914, a decisão de Farley não foi – pelo menos não totalmente – altruísta.
Estou a fazer isto porque quero que os meus funcionários comprem os meus carros. Se ganharem dinheiro suficiente, comprarão o meu próprio produto. É uma profecia a cumprir-se, de certa forma.
Jovens afastam-se cada vez mais das fábricas
Ainda segundo a Forbes, apesar de os Estados Unidos preverem 3,8 milhões de novos empregos na indústria até 2033, de acordo com a Deloitte e o Manufacturing Institute, a geração mais jovem de trabalhadores tem, na sua maioria, mantido a distância dessa carreira.
Um estudo da Soter Analytics de 2023 indica que este afastamento deve-se, em grande parte, aos baixos salários. Nos Estados Unidos, os empregos na indústria transformadora têm um salário médio de 25 dólares por hora – cerca de 51.890 dólares por ano -, ficando longe do salário médio americano de 66.600 dólares, conforme os dados citados.
Para Farley, ainda assim, os governos têm de “levar muito a sério o investimento em escolas profissionais e profissões especializadas”.
Conforme exemplificou, “na Alemanha, todos os nossos funcionários têm um aprendiz que começa no ensino básico; cada um desses empregos tem por trás uma pessoa com oito anos de formação”.
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