Um estudo realizado em simulador confirma o que muitos já suspeitavam. Ler uma notificação ao volante desvia o olhar da estrada durante mais tempo do que se pensa — com consequências por vezes dramáticas.
- Ler uma notificação ao volante desvia o olhar da estrada durante 12 segundos, o equivalente a 450 metros a 130 km/h.
- Os testes revelaram que as notificações aumentam o risco de acidente: 45% dos condutores perderam o controlo.
- Para reduzir o risco, recomenda-se desativar as notificações e consultar o telemóvel apenas com o carro parado.
O smartphone está quase sempre presente no tablier. Dá direções, mostra o estado do tempo, avisa sobre o trânsito… e exibe notificações. Um estudo encomendado pelo coletivo Assurance Prévention analisou o comportamento de 24 condutores num simulador, em diferentes contextos de condução.
Depois de vários cenários, concluiu-se que são precisos, em média, mais de 12 segundos para tratar uma notificação. A 130 km/h, isso equivale a mais de 450 metros percorridos sem atenção efetiva à estrada.
Ler uma notificação leva mais de 12 segundos — 450 metros a 130 km/h
No simulador, os participantes conduziram em autoestrada, zonas urbanas e estradas secundárias, de dia e de noite. A experiência durou um total acumulado de 33 horas e 3.600 quilómetros. Periodicamente, eram enviadas notificações para os seus telemóveis, e câmaras registavam os movimentos oculares.
Os números impressionam, até porque a situação é comum a quase todos nós. A cada alerta recebido, os condutores desviavam o olhar da estrada por uma média de 12,7 segundos, alternando entre o ecrã e a via. Nesse intervalo, a 130 km/h, percorriam cerca de 450 metros; a 50 km/h, em contexto urbano, são 176 metros.
Este tempo de distração reduz drasticamente a capacidade de antecipar travagens, mudanças de faixa ou movimentos de peões.
Numa hora de condução com notificações, os condutores passaram cerca de seis minutos a olhar para o ecrã. A análise também avaliou os acidentes em cenários de risco. Sem telemóvel ativo, 25% perderam o controlo em situações críticas; com notificações, esse valor subia para 45%. Em cidade, as colisões triplicavam.
Importa lembrar que os novos radares, além de detetarem o uso do cinto e o respeito pelas distâncias de segurança, já conseguem identificar a utilização do smartphone ao volante.
A tentação é maior que a prudência, mesmo conhecendo o risco
Michael, pai de dois filhos, seguia para férias com o GPS ativo e a playlist pronta. Diz nunca falar ao volante, nem com auricular, mas admite clicar por vezes numa notificação. Annick, reformada, partilha o mesmo hábito: «Tento não olhar sempre que toca, mas entre mensagens, alertas de notícias e notificações do Facebook ou Instagram, somos muitas vezes tentados a ler… e por vezes a responder».
Estas práticas são bem conhecidas pelos investigadores. O sociólogo Dominique Boullier, especialista em digital, lembra que cada alerta é desenhada para provocar uma reação imediata. Segundo ele, os interfaces no carro agravam o problema ao facilitar a exibição de informações supérfluas. E muitos acreditam conseguir conduzir enquanto consultam o telemóvel — o que reduz substancialmente a perceção do que acontece à volta.
Para Éric Lemaire, vice-presidente da Assurance Prévention, a atitude correta é desligar todas as notificações ou entregar o telemóvel ao passageiro. Sugere ainda que GPS e rádio sejam configurados antes da partida e que as pausas sirvam para verificar mensagens. Quase todos os alertas, diz, podem esperar.
De acordo com os dados mais recentes da Segurança Rodoviária francesa, 13% dos acidentes mortais em 2023 envolveram uso do telefone ao volante — mais de 400 mortes num só ano. E este número não inclui colisões sem feridos graves ou situações em que não foi possível confirmar o uso do dispositivo. Estudos como este, em ambiente controlado, ajudam a perceber como uma simples notificação pode afastar o olhar durante centenas de metros.
Se, ainda assim, tiver mesmo de usar o telemóvel em andamento, limite-se a chamadas recebidas, através de um dos muitos kits mãos-livres disponíveis no mercado — alguns dos quais testámos para si.