Comandar sem tirar os olhos da estrada: a Honda regressa aos botões físicos

Comandar sem tirar os olhos da estrada: a Honda regressa aos botões físicos

Num setor obcecado pela digitalização total, há marcas que optam por um caminho que privilegia a segurança, a ergonomia e a experiência do condutor. A Honda é uma delas, com uma forte aposta nos botões físicos, sem que tal prejudique a inovação tecnológica dos seus modelos.

Num panorama automóvel onde a digitalização domina o tablier, com ecrãs cada vez maiores e interfaces minimalistas, a Honda decidiu seguir um caminho diferente ou talvez mais sensato.

Em vez de substituir todos os comandos físicos por menus tácteis, a marca japonesa aposta na permanência de botões físicos para funções essenciais. E há uma razão sólida por detrás dessa escolha: a segurança do condutor.

A integração de ecrãs tácteis tornou-se quase um sinónimo de modernidade nos automóveis. São apelativos, configuráveis, e prometem centralizar todas as funções num só ponto de acesso.

Contudo, esta solução estética e tecnológica levanta sérias questões ao nível da segurança rodoviária. E os dados científicos confirmam essas preocupações.

Um estudo realizado pela Transport Research Laboratory (TRL), no Reino Unido, demonstrou que o tempo de reação de um condutor a operar um ecrã tátil pode ser até cinco vezes mais lento do que ao utilizar comandos físicos convencionais.

Num cenário de estrada, isto traduz-se em segundos preciosos em que os olhos se desviam do caminho. E esses segundos podem ser fatais.

Outro relatório, da revista sueca Vi Bilägare, testou 11 modelos modernos com painéis praticamente sem botões. A conclusão?

Para executar uma ação tão simples como ajustar a temperatura ou mudar de estação de rádio, os condutores necessitavam, em média, de 20 a 30 segundos de navegação por menus.

Numa viagem a 110 km/h, isso corresponde a percorrer entre 600 e 900 metros com atenção reduzida. Um risco desnecessário.

 

Honda: voltar ao básico pode ser avançar

É neste contexto que a Honda se destaca com uma abordagem mais pragmática. Modelos como o Civic, o HR-V e o CR-V mantêm uma filosofia de design centrada no condutor, com comandos físicos para funções como climatização, volume de áudio, e acesso rápido ao menu principal.

Os botões são táteis no verdadeiro sentido da palavra: podem ser operados sem desviar o olhar, com feedback imediato e intuitivo.

Ao contrário de um ecrã tátil, que exige coordenação visual e atenção contínua, um botão rotativo pode ser operado com um simples gesto, muitas vezes guiado apenas pela memória muscular.

Esta capacidade de “sentir” o comando é um trunfo silencioso, mas valioso, sobretudo em condução noturna, em más condições atmosféricas ou em cenários de trânsito denso.

 

Desenhar com o condutor em mente

A ergonomia automóvel não é apenas uma questão de conforto, é também uma questão de segurança ativa. A Honda reconhece que, por mais avançado que seja o sistema de infotainment, o foco do condutor deve permanecer na estrada.

Ao manter comandos físicos para as tarefas mais frequentes, a marca permite que estas sejam realizadas de forma quase automática, sem que o condutor tenha de procurar ícones pequenos num ecrã ou navegar por submenus.

Além disso, há também um aspeto de fiabilidade. Ecrãs táteis estão sujeitos a latência, erros de toque e, por vezes, a falhas de software. Um botão físico, por sua vez, raramente falha. Carrega-se, roda-se e a função executa-se. É simples, robusto e eficaz.

Num mercado que muitas vezes sacrifica a funcionalidade em nome do design, a Honda recusa seguir cegamente a tendência. E faz bem.

Ao apostar em mais botões e menos ecrã, está a dar uma resposta concreta a um problema real: a distração ao volante. E fá-lo sem abdicar da inovação. Os sistemas são modernos, os ecrãs estão lá, mas são complementados por elementos físicos que facilitam a vida de quem realmente importa, ou seja, o condutor.

O avanço tecnológico não está apenas no que é novo, mas também na sabedoria de manter o que funciona. E, neste caso, a segurança agradece.