Depois de anos de tentativas frustradas, Elon Musk conseguiu esta semana dois avanços decisivos na Índia: a aprovação final para o arranque comercial da Starlink e a abertura da primeira loja Tesla no país. As duas marcas emblemáticas do universo do multimilionário sul-africano-americano marcaram, assim, a sua entrada formal num dos maiores e mais complexos mercados do mundo.
No passado dia 9 de julho, a Starlink, empresa de internet via satélite da SpaceX, recebeu a aprovação final por parte da Indian National Space Promotion and Authorisation Centre para operar na Índia, concluindo um processo que se arrastava há três anos. Segundo especialistas, este passo poderá ter um impacto significativo num país onde cerca de 600 milhões de pessoas ainda não têm acesso à internet.
Apesar da autorização, a Starlink ainda terá de ultrapassar vários obstáculos técnicos e legais. “A empresa precisa agora de desenvolver infraestruturas no terreno que permitam a ligação aos satélites”, explicou Varun Gupta, analista sénior de telecomunicações da Counterpoint Research. Além disso, sublinhou que a Starlink terá de cumprir as exigentes regras de localização de dados da Índia, que obrigam à armazenagem local de dados e à cedência de acesso ao governo indiano por motivos de segurança nacional.
Outro desafio será a definição das áreas prioritárias para a implementação dos serviços. Embora muitos apontem as zonas rurais como o foco natural da Starlink — por terem menor cobertura de internet e melhor visibilidade para os satélites —, Gupta alerta que essas regiões podem não oferecer “base suficiente de consumidores”. Assim, a aposta poderá recair sobre áreas semiurbanas, onde existe uma crescente procura por ligações de qualidade devido ao aumento do trabalho remoto.
A entrada da Starlink no mercado indiano será apoiada por parcerias estratégicas com operadores locais. As empresas Reliance Jio e Bharti Airtel, dois dos maiores grupos de telecomunicações do país, assinaram em março acordos com a Starlink, que aguardavam precisamente esta luz verde oficial para avançar.
Paralelamente, a Tesla abriu esta terça-feira a sua primeira loja física na Índia, situada no bairro de Bandra, em Mumbai. A inauguração marca o início oficial da presença comercial da marca de automóveis elétricos no país, ainda que de forma limitada. Segundo Eliot Pence, diretor de negócios da Osmo e especialista em mercados emergentes, esta loja tem um valor sobretudo “simbólico, e pouco impacto comercial imediato”.
Ao contrário da estratégia usada por outras tecnológicas como a Apple, cuja abertura da loja na Índia contou com a presença do CEO Tim Cook, Elon Musk não esteve presente na inauguração da Tesla. A ausência do empresário foi interpretada como um sinal de prudência, num momento em que o relacionamento com o governo de Narendra Modi permanece delicado. Recorde-se que a rede social X, também detida por Musk, está a processar o Estado indiano por alegada censura e abuso de poder na remoção de conteúdos.
A Tesla enfrentou durante anos barreiras alfandegárias elevadas para entrar no mercado indiano, com altas taxas de importação e impostos sobre produtos de luxo. Essas dificuldades persistem. O modelo mais acessível da marca, o Model Y, terá um preço inicial de cerca de 70 mil dólares na Índia, muito acima dos 44.990 dólares praticados nos Estados Unidos. Em contraste, vários modelos de veículos elétricos vendidos na Índia custam menos de 25 mil dólares.
Para o economista Pravin Krishna, da Universidade Johns Hopkins, que visitou o novo centro de experiência da Tesla em Mumbai, o preço será uma barreira séria à massificação da marca. “O preço elevado pode travar as vendas e, com isso, impedir o desenvolvimento da infraestrutura de carregamento que seria necessária para sustentar o crescimento da Tesla no país”, afirmou ao New York Times.
Apesar destes entraves, a decisão de Musk de avançar poderá revelar uma aposta estratégica de longo prazo, na expectativa de que o governo indiano revise as tarifas aduaneiras ou que o crescimento da classe média urbana justifique a presença de uma marca premium como a Tesla.
Com o duplo avanço de Starlink e Tesla na mesma semana, Elon Musk dá um passo relevante no sentido de integrar o mercado indiano no seu ecossistema global — embora os desafios económicos, regulatórios e políticos se mantenham consideráveis.
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