Apesar de o foco estar na Europa, nos Estados Unidos e, cada vez mais, na China, há um país a traçar um caminho notável em matéria de mobilidade elétrica. Com a média global nos 20%, esta nação dos Himalaias já conseguiu que 76% dos seus veículos de passageiros novos sejam elétricos.
Nos últimos anos, de forma discreta e até inesperada, o Nepal tornou-se uma referência na adoção de veículos elétricos. Entre julho de 2023 e 2024, cerca de 76% dos automóveis de passageiros e 50% dos veículos comerciais ligeiros vendidos no país foram elétricos.
Este feito é particularmente relevante, se considerarmos que a média global, em 2024, situava-se nos 20%.
Segundo uma nova reportagem do The New York Times, que explora o caminho do país no âmbito da mobilidade elétrica, o progresso resulta de uma combinação de fatores:
- Eletricidade limpa e abundante proveniente de centrais hidroelétricas, conforme vimos aqui;
- Impostos de importação baixos (cerca de 40%) para veículos elétricos contra 180% para veículos a combustível;
- Infraestrutura de carregamento em rápida expansão, com 62 estações públicas já instaladas pelo governo.
De facto, par os habitantes do Nepal, os veículos elétricos são mais económicos, com a eletricidade a ser cerca de 15 vezes mais barata do que os combustíveis fósseis.
Estação de carregamento em Chitwan, no Nepal. Crédito: Nepalkhabar, 2022
O progresso tem sido de tal forma positivo que marcas de automóveis chinesas, como é exemplo a BYD, passaram de vender equipamentos solares a operarem dezenas de concessionárias no país.
Durante o ano 2023-24, foram importados mais de 11.700 veículos elétricos, dos quais cerca de 70% a 80% provinham da China.
Entretanto, nos primeiros dez meses de 2024-25, o cenário foi semelhante: quase 10.000 carros elétricos entraram no país, dos quais mais de 7300 unidades da China.
Com resultados largamente positivos, para 2030, o Nepal ambiciona que 90% dos automóveis de passageiros e 60% dos veículos comerciais de quatro rodas sejam elétricos. Posteriormente, para 2035, a ambição aumenta para 95% e 90%, respetivamente.
Apesar dos dados positivos, país enfrenta obstáculos
Com metas ambiciosas, o Nepal enfrenta alguns obstáculos ao seu cumprimento.
Desde logo, e à semelhança do que testemunhámos pelos países da Europa, a infraestrutura de carregamento ainda é insuficiente fora dos grandes centros urbanos, e ainda não existe, no país, um sistema claro para o fim de vida das baterias nem regras ambientais para a sua reciclagem.
Depois, as alterações recentes nas políticas fiscais tornaram os veículos elétricos mais caros, com aumentos de taxas e restrições ao financiamento.
Por fim, o transporte público continua pouco eletrificado, com as empresas a terem poucos autocarros elétricos, por exemplo.