80 anos depois, sobrevivente de Hiroshima diz que vivemos “o momento mais perigoso”

80 anos depois, sobrevivente de Hiroshima diz que vivemos “o momento mais perigoso”

A 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos detonaram duas bombas atómicas nas cidades japoneses de Hiroshima e Nagasaki, respetivamente. Decorria a Segunda Guerra Mundial. Em 2025, 80 anos depois, o mundo recorda o ataque e apela a que os líderes mundiais não ignorem as tragédias provocadas pela utilização de armas nucleares.

Em 1945, aquando da Segunda Guerra Mundial, cerca de 200.000 pessoas morreram, após a detonação de duas bombas nucleares, no Japão, pelos Estados Unidos.

Enquanto o mundo recorda o ataque, testemunhado à distância, um sobrevivente de 83 anos deixa uma mensagem, um alerta:

Este é o momento mais perigoso […] A Rússia pode usá-la [uma arma nuclear], a Coreia do Norte pode usá-la, a China pode usá-la. E o Presidente Trump… ele é simplesmente uma grande confusão. Temos apelado e apelado por um mundo sem guerra ou armas nucleares, mas eles não estão a ouvir.

Disse Toshiyuki Mimaki, copresidente Nihon Hidankyo, uma organização japonesa de sobreviventes dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki, vencedora do Prémio Nobel da Paz, em 2024.

Com três anos, Toshiyuki Mimaki viveu a primeira vez que uma arma nuclear foi usada em guerra e lembra-a como um dos eventos mais horríveis da história dos conflitos.

O que me lembro é que naquele dia eu estava a brincar na rua e houve um clarão. Estávamos a 17 km do hipocentro. Não ouvi nenhum estrondo, não ouvi nenhum som, mas pensei que fosse um relâmpago.

Então, era tarde e as pessoas começaram a sair em massa. Algumas com os cabelos todos despenteados, roupas esfarrapadas, algumas a usar sapatos, outras sem sapatos, e a pedir água.

Recordou Mimaki, em conversa com a britânica Sky News, contando que “a cidade deixou de existir”.

 

Hiroshima recorda bomba nuclear e exorta jovens

Em 2025, 80 anos depois, “as pessoas ainda sofrem com a radiação”, sendo “muito fácil ter cancro”. Aliás, o cancro é uma das maiores preocupações para Mimaki, mesmo hoje em dia.

Apesar de ele e outros ativistas serem verdadeiramente vocais relativamente à ameaça nuclear, ainda existem cerca de 12.000 ogivas nucleares no mundo, em nove países.

No futuro, nunca se sabe quando elas podem ser usadas. Rússia-Ucrânia, Israel-Gaza, Israel-Irão… há sempre uma guerra a decorrer em algum lugar.

Lamentou Mimaki, questionando por que motivo “esses animais chamados humanos gostam tanto da guerra”.

Kazumi Matsui, presidente da Câmara de Hiroshima, a discursar na cerimónia dos 80 anos desde o ataque nuclear. Crédito: Rodrigo Reyes Marin/ZUMA Press Wire/Shutterstock via The Guardian

Entretanto, segundo o The Guardian, enquanto residentes, sobreviventes e representantes de 120 países se reuniam no parque memorial da paz da cidade, nesta quarta-feira, numa cerimónia, o presidente da Câmara, Kazumi Matsui, alertou que os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente estão a contribuir para uma crescente aceitação das armas nucleares.

Esses desenvolvimentos desconsideram flagrantemente as lições que a comunidade internacional deveria ter aprendido com as tragédias da história. Eles ameaçam derrubar as estruturas de construção da paz que tantos trabalharam arduamente para construir.

Disse Matsui, antes de exortar os jovens a reconhecerem as consequências “totalmente desumanas” das armas nucleares; e apelar para que os países mais poderosos do mundo abandonem a dissuasão nuclear.

Apesar do cenário global, “nós, o povo, nunca devemos desistir; em vez disso, devemos trabalhar ainda mais para construir um consenso da sociedade civil de que as armas nucleares devem ser abolidas para um mundo genuinamente pacífico”.