A CEO da Michelin Espanha & Portugal alerta para o avanço dos pneus chineses na Europa: “A quota chinesa passou de 5% para 20%”!
María Paz Robina, CEO da Michelin Espanha & Portugal, chama a atenção para o perigoso crescimento dos pneus chineses na Europa. Um aumento imparável com que os fabricantes históricos de pneus, como a Michelin, têm de lidar num momento crucial para a indústria automóvel europeia.
O automóvel chinês tornou-se um protagonista inesperado no competitivo mercado automóvel europeu. Em pouco tempo, marcas oriundas da distante China irromperam na Europa, obtendo um sucesso surpreendente. Marcas como MG, Omoda, Jaecoo e BYD registam números de vendas extraordinários que geram preocupação e receio nas fabricantes tradicionais.
Mas não se trata apenas da chegada de automóveis e marcas chinesas. Os fabricantes de pneus também enfrentam esta ofensiva particular, que não dá sinais de abrandar. As marcas chinesas de pneus vivem igualmente um momento favorável na velha Europa. É o que sublinha a própria María Paz Robina, CEO da Michelin Espanha & Portugal, ao apontar para o crescimento acelerado dos pneus chineses.
María Paz Robina, Diretora-Geral da Michelin Espanha & Portugal desde 2019 e figura de destaque na indústria automóvel europeia.
Michelin alerta para o crescimento dos pneus chineses na Europa
Numa recente entrevista, Robina fez uma análise detalhada sobre a situação atual do mercado europeu de pneus para automóveis e dos vários desafios com que os fabricantes históricos têm de lidar. Não se trata apenas do aumento das vendas de pneus chineses — a quebra nas matrículas de automóveis novos afeta também diretamente empresas como a Michelin.
Questionada sobre a fraqueza nas vendas de carros novos na Europa e a pressão exercida pelas marcas chinesas de pneus, a diretora-geral da Michelin Espanha foi clara ao afirmar que ambas as questões representam um risco preocupante para a empresa. Ainda assim, Robina destaca especialmente a forte ascensão dos pneus chineses.
A Europa não consegue recuperar totalmente e a entrada de marcas asiáticas é muito forte. Em 20 anos, o valor do mercado de pneus duplicou e a quota asiática ou chinesa passou de 5% para 20%. É como se a tivessem multiplicado por oito.
Afirmou Robina.
A diversidade na gama de produtos é outro aspeto notável, oferecendo produtos adaptados a uma variedade de necessidades e condições de direção. Marcas chinesas como Goodride, Tracmax, Lanvigator, Sailun, Triangle… entre outras estão a ocupar a preferência do consumidor europeu.
Michelin pede igualdade de condições para todos os fabricantes
A CEO da Michelin salienta ainda a necessidade de todos os fabricantes de pneus competirem em igualdade de condições. E isso, segundo Robina, depende da União Europeia:
Os fabricantes premium na Europa têm custos, laborais ou energéticos, com os quais é muito difícil competir, por melhor que se seja. E existem exigências da UE que não são as mesmas que eles têm, apesar de entrarem aqui.
A União Europeia deve apoiar a indústria, seja qual for o setor. Não se trata de colocar barreiras, que as multinacionais não apreciam, mas sim de exigir as mesmas regras a todos para competir em igualdade de condiçõe.
Concluiu Robina.
Estaremos a caminhar para tempos difíceis?
No futuro próximo, é expectável que a presença de componentes automóveis vindos da China, não apenas pneus, mas também baterias, sistemas eletrónicos e peças estruturais, se intensifique de forma significativa no mercado europeu.
Este movimento poderá redefinir a cadeia de abastecimento, aumentar a pressão sobre a competitividade das marcas tradicionais e acelerar mudanças nas políticas comerciais da União Europeia.
A questão central deixará de ser apenas a qualidade ou o preço, passando a centrar-se na capacidade da indústria europeia se adaptar a um ecossistema global onde a China assume um papel dominante e onde a inovação e a resposta regulatória serão determinantes para equilibrar o jogo.