Muito conhecida da ciência, esta lacuna, que pode ser mortal, terá de ser colmatada pelas fabricantes de automóveis, aquando dos testes de colisão dos seus modelos.
Esta semana, o secretário dos Transportes dos Estados Unidos, Sean Duffy, revelou uma solução para incluir a outra metade da população nos testes de colisão – pelo menos, de forma mais correta.
Respondendo a um pedido que os investigadores de segurança têm feito há anos, Sean Duffy revelou o primeiro manequim feminino avançado do país para testes de colisão.
Pela primeira vez, os testes não serão feitos com uma versão reduzida do modelo masculino, pois o novo manequim foi construído do zero para representar mulheres reais.
Uma lacuna que a população pode desconhecer
Esta lacuna, preenchida, agora, pelos Estados Unidos, vai ao encontro de um conceito muito conhecido da ciência e da investigação científica.
De nome lacuna de género na investigação ou gender data gap, descreve a diferença de atenção, recursos e dados recolhidos para homens e mulheres na ciência, existindo uma tendência histórica de realizar estudos, incluindo testes de medicamentos, principalmente com participantes masculinos.
Como resultado, muitos dados usados para desenvolver tratamentos e protocolos de saúde, mesmo os dirigidos às mulheres, não representam adequadamente esta parte da população, levando a diagnósticos menos precisos e efeitos secundários inesperados.
Apesar de as mulheres representarem cerca de 50% de todos os condutores, nos Estados Unidos, os padrões americanos de testes de colisão baseiam-se, historicamente, em manequins masculinos.
Neste momento, as versões “femininas” usadas são, muitas vezes, versões menores de manequins masculinos, sem nenhuma adaptação face às diferenças biomecânicas que importam numa colisão.
Segundo o Carscoops, em alguns testes federais, o manequim menor era até colocado no banco do passageiro, deixando o banco do motorista para o manequim masculino.
Este cenário ocorre, apesar de as mulheres terem 73% mais probabilidade de sofrer ferimentos graves em comparação com os homens em colisões frontais idênticas.
Além disso, as condutoras e passageiras do banco da frente têm 17% mais probabilidades de morrer do que os homens, segundo a NBC News.
Por tudo isto, a introdução de um manequim feminino, num mercado preponderante como o norte-americano, é crucial. Mais do que projetar o tema para outros mercados, pode incentivá-los a mudar.
Carros mais seguros para as mulheres
De nome HOR-05F, o manequim tem aproximadamente o tamanho de uma mulher média, com 150 cm e 49 kg, e está repleto de sensores e biomecânica atualizada que refletem a anatomia, a postura, a distribuição muscular e o comportamento das articulações femininas.
Desta forma adaptada, pode medir forças e lesões em locais que os manequins Hybrid III mais antigos não podiam, incluindo impactos em tecidos moles, deflexão detalhada do tórax e movimento rotacional da cabeça, que refletem melhor como os corpos reais se comportam em acidentes reais.
Futuramente, uma vez que os reguladores planeiam integrar o THOR-05F nos protocolos federais de testes de colisão, os veículos terão de proteger todos, e não apenas o típico homem.
Neste sentido, as fabricantes terão de demonstrar o desempenho de segurança dos seus veículos, utilizando manequins masculinos e femininos, e garantindo que características como airbags, pressão dos cintos de segurança, geometria dos bancos e zonas de deformação funcionam para uma gama muito mais ampla de condutores.
Embora já peque por tardio, nos Estados Unidos, os testes com o novo manequim feminino só deverão começar em 2027, no mínimo, com o seu uso a tornar-se, depois disso, obrigatório.